Qual o papel da família no desenvolvimento do indivíduo? Explicamos que a família é um sistema que influencia e é influenciado pelos seus membros. Conceituamos a co-dependência como algo que surge a partir nascimento do indivíduo e está presente nas relações que ele estabelece com outras pessoas, ou melhor, com seus pares. Aprimorando nossas afirmações, podemos dizer que como parte do processo, as relações evoluem e a isso chamaremos a partir de agora de interdependência, pois cada qual deverá crescer e seguir seu caminho. Para tanto, a relação doentia, que emperra, que pode ser destrutiva, chamaremos simplesmente de co-dependência. É Notório que a co-dependência já existe desde a tenra idade, na forma de cuidados excessivos dos pais para com os filhos, como por exemplo: a) quando estes fazem para a criança aquilo que ela poderia fazer, enquanto que a função seria apenas orientar para que elas mesmas descubram e realizem criativamente aquela tarefa; b) propiciam excessivas atividades para crianças – natação, aulas de inglês, lutas marciais, esquecendo-se que o mais importante para o desenvolvimento dos seus filhos é brincar e interagir com os coleguinhas através das brincadeiras. Talvez os pais não conseguem entender que é explorando, errando, caindo, que eles vencem aos poucos as frustrações e é do mesmo modo, brincando – de carrinho, de boneca, com seus amiguinhos imaginários etc. – que as crianças estão seriamente se preparando para uma tarefa difícil que é ser adulto e responsável por sua própria vida. Afinal de contas, só podemos cuidar do outro, se aprendemos cuidar em primeiro lugar de nós mesmos. Assim posto, toda essa relação doentia gera indivíduos insatisfeitos, vazios de afeto, inseguros, egoístas, com baixa tolerância à frustração e excessivamente dependentes, com dificuldade de realizar suas próprias atividades ou que acabam se vinculando aos seus pares de modo obsessivo e repetem as relações doentias aprendidas em casa. Por sua vez, este processo pode gerar doenças, como a depressão e o transtorno de pânico; dependência de drogas, álcool, jogos – e mais recentemente; a Internet; também leva ao suicídio e até ser o responsável por tantas separações conjugais do mundo atual. Outro fato que chama nossa atenção é que há muito se tem falado e observado a corrupção nos meios políticos brasileiros, mas esquecemos que isso ocorre já muito cedo em nossos lares.
Assim, nós agimos, muitas vezes como corruptores dos nossos próprios filhos, pois quando eles realizam alguma tarefa que nos agrada ou para que eles fiquem quietos e não nos perturbem por algum tempo, damos dinheiro para eles ou deixamos que eles façam o que desejarem. Acreditamos que premiando-os ou deixando-os livres é que eles estarão felizes. Ficamos felizes também quando nossas crianças, já de tenra idade, ficam atentas à TV ou sabem ligar e manipular computadores ou “videogames”, mas não percebemos que estamos transferindo nossa tarefa de educação para esses aparelhos, eletrônicos/virtuais, que por vezes fazem apologia à violência, sexo, drogas, bebidas, ao consumo supérfluo, além de outros vícios. Por fim, não podemos nos furtar de que enquanto adultos e educadores, nossa tarefa é: amar, ensinar, impor limites e cuidar, estabelecendo uma relação de respeito e demonstrando que nós nos preocupamos com nossos filhos. Temos em mente que o mais importante é a qualidade da relação e não a quantidade e se não temos todo tempo para ficar com nosso ente querido, que estabeleçamos um período, uma hora por dia para ouvi-lo. Neste contacto ensinamos que não somos simplesmente amigos, podemos demonstrar que somos pais, que existe uma hierarquia e que deve ser respeitada. Entendemos que é tendo a percepção daquilo que nossos entes queridos realmente precisam é que nos livraremos da co-dependência e tornaremos nossa relação com eles e com o meio social muito mais sadia, ou seja, transformando a co-dependência em interdependência. Assim sendo, poderemos crescer e viver num mundo melhor e teremos pessoas verdadeiramente responsáveis e felizes.
Artigo publicado originalmente em 2007 no Jornal a Gazeta de Pinheiros-SP